O Esplendor do Lírio
Três livros de S. Ambrósio , bispo de Milão,
sobre a virgindade , á sua irmã Marcelina
LIVRO PRIMEIRO
Capítulo segundo
Santa Inês
Ambrósio narra, no início de seu livro, o natalício de uma virgem, isto é da bem-aventurada Inês. Celebra-lhe o nome, a pureza, o martírio, mas principalmente a idade, porquanto aos 12 anos venceu varonilmente os tormentos, as promessas e, finalmente, a própria morte.
5. E feliz coincidência encetarmos nosso livro dedicado ás virgens no dia natalício duma virgem. E o natal duma virgem, imitemos a pureza. E o natal duma mártir, imolemos vítimas. E o natal de Inês, admirem-se os varões, não desanimem os jovens, pasmem as esposas, imitem-na as virgens.¹
Mas, como louvaremos aquela cujo nome encerra um elogio? o devotamento
excedeu-lhe a idade, a virtude sobrepujou-lhe a natureza de tal modo que
me quer parecer recebesse não um nome humano, mas anúncio do martírio futuro.
6.Tenho, porém, donde tirar explicação.O nome da virgem designa pudor. Chamá-la-ei mártir, proclamá-la-ei virgem. Suficientemente expressivo é o louvor que se não procura, mas que se possui.
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1) O nome Inês vem do grego Hagnê, pura.
Desmaiem-se os talentos cale-se a eloquência que uma só palavra é o elogio
bastante. Cantem-lhe louvores os anciãos, os jovens e as crianças. Só é
condignamente louvável quem por todos pode ser louvado. Quantos forem os
homens tantos serão os panegiristas da mártir.
7. Refere-se que Inês foi martirizada aos 12 anos. Abominável crueldade que não poupou idade tão tenra e grande valor o da fé atestada por tal idade . Havia onde . ferir corpo tão tenro? Entretanto, aquela que não tinha onde receber ferida da espada soube por onde vencer o gládio. Nesta
idade as crianças não suportam o semblante carregado dos pais, e costumam
chorar com as picadas de agulha como se fora incisão. Impávida entre as mãos cruentas dos algozes, imóvel no meio do ranger das pesadas cadeias, entrega todo seu corpo á espada de furioso soldado ; ignora o que seja morrer e já está pronta para fazê-lo.Arrastam-na, constrangida, aos altares,
mas, elevando os braços para Cristo, no meio das chamas, ostenta dentro das
labaredas sacrílegas o troféu do Senhor vitorioso. Oferece pescoço e mãos ás algemas; não as havia, porém, que ligassem membros tão pequenos.
8.Nova espécie de martírio? Ainda não amadurecida para o suplicio e já era para a vitória: luta desigual, mas triunfo fácil, ensina fortaleza aquela a quem idade não dava direitos. A cabeça adornada da beleza de Cristo e não de cabelos trabalhados, coroada não de flores mas de virtudes, a virgem caminha animosa para o lugar do suplício , tão prestes para as núpcias não correria a esposa. Todos choram, exceto a virgem. Admira-se que sacrifique, tão
pródiga, uma vida ainda não vivida, como se já tivesse chegado ao termo .
Maravilham-se dê testemunho da divindade quem, pela idade, não era senhora de si mesma.Finalmente fez com que se atribuísse a
Deus o que não podia ser realizado por homens. Aquilo que ultrapassa a natureza compete ao autor da natureza.
9. Quanto pavor incutiu o algoz para intimidá-la, quanta promessa para
dissuadi-la. Quantos anelaram desposá-la? Ela, porém, replica: "é ofender o Esposo fazê-lo esperar pela amada que lhe agrada. Receber-me-á Aquele que, primeiro me escolheu. Por que tardas, algoz? Pereça o corpo amado de olhos que aborreço". A virgem firmou-se sobre os pés, orou e, em
seguida, dobrou a cabeça sobre o cepo. O algoz, porém, começa a hesitar como se ele próprio tivesse sido ferido; treme-lhe a mão, empalidecem-lhe as faces á vista do perigo alheio; a virgem, entretanto, nada teme.
Numa hóstia dois martírios: o da castidade e o da religião. Permaneceu virgem e coroou-se mártir.
Trecho retirado do livro :O Esplendor do Lírio
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