quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
1-CARTA DE SÃO GERALDO MAJELLA Á MADRE MARIA DE JESUS
1. Carta à Madre Maria de Jesus (1)
Melfi, 17 de dezembro de 1751
Assunto e contornos: Geraldo apreciava muito esta religiosa e ela o tinha em grande conceito. Desde que se conheceram, começaram a corresponder-se comunicando seus próprios sentimentos. Quando se encontravam, era o mesmo que ver dois carvões em fogo que se incendiavam um ao outro.
Desde outubro de 1751, Padre Cafaro não é mais o reitor de Deliceto e Geraldo tem mais liberdade de movimento. Visita, então, as monjas de Ripacandida e volta cheio de profunda alegria; teme, porém, que elas tenham feito uma estima muito alta sobre si. Com a carta que lhes envia, quer colocar-se humildemente à luz da verdade. A comunhão de oração que estabelece com o mosteiro, é fonte de profunda e jubilosa caridade.
Jesus + Maria!
Ó Divino Amor, ficai sempre no coração desta sua dileta e querida esposa.
Escrevo-lhe, às pressas, minha querida e bendita Madre, pondo-me novamente a seus pés e aos de todas essas minhas queridas irmãs, que desejo estejam sempre unidas no lado aberto e escancarado de Jesus Cristo e no coração aflito
de Maria Santíssima, onde se encontra toda doçura e todo repouso.
São tantos os favores e a benignidade de V. Revma.: de uma parte me causaram suma consolação e, de outra, trouxeram-me mortificação e tristeza, já que me reconheço cheio de indignidade em comparação com as verdadeiras esposas de Jesus Cristo, por ter-me portado com pouca modéstia e reverência diante de V. Revma., sentindo-me culpado destas faltas que causam admiração. (2)
Por isso, sinto-me obrigado a acusar-me como réu, clamando por toda parte: misericórdia, pedindo-lhes humildemente perdão, por amor de Jesus Cristo, pela minha loucura passada ou, para melhor dizer, presente, da qual lhes falei. Se bem que não proveio de outro fim, senão de um fim justo, a fim de mostrar-me como sou, para que V. Revma. tivesse piedade com todas as vossas filhas. Pois pelas minhas contínuas imperfeições, vou pedindo ajuda da Revda. Madre, esperando, ao mesmo tempo, nas suas santas orações, que, mediante essas orações, eu faça verdadeiramente a vontade do meu e comum Pai.
Agradeço-lhe, pois, a santa prudência em haver-me suportado com tanta caridade; e isto, não por mim, mas por amor de Jesus Cristo.
Entretanto, senão percebeu, pelo comentário que fiz, digo-lhe que peço que reflita sobre isto, já que falei justamente para ser auxiliado por V. Revma.
É verdade, porém, que fiquei um pouco desgostoso com aquelas palavras que foram ditas na manhã seguinte, na minha partida, durante o recreio, pois de tudo o que eu lhes disse, pensaram o contrário, tendo-lhes falado com sinceridade de coração.(3) Pois eu nunca confiei em mim mesmo, podendo certamente enganar-me.
A minha dor foi tanta que fiquei fora de mim mesmo. E ao voltar pela estrada de Melfi, o cavalo tomou o caminho de
Foggia. Já havia percorrido cerca de quatro milhas, e, quando percebi, entreguei tudo à divina Paixão de Jesus Cristo.
As comunhões (conforme o trato entre nós dois), por uma parte, foram-me de grande consolo, e por outra, causaram-me grande confusão, ao pensar na infinita bondade de Deus, que induziu as suas queridas esposas a interessar-se pela salvação de quem tantas vezes ingratamente o ofendeu.
Ó excesso de caridade, ó prodígio estupendo, ó amor de verdadeiro pastor em procurar com tanto trabalho as ovelhinhas perdidas!
Peço-lhes dizer, por amor de Jesus Cristo, àquela minha irmã, que farei, embora indigno, a santa comunhão que deseja, a fim de que se faça santa com a ajuda de Deus. Digo a todas: abraço-as dentro do lado sagrado de Jesus Cristo.(4)
Melfi, 17 de dezembro de 1751
Peço-lhe a caridade, por amor de Jesus Cristo e de Maria Santíssima, de recomendar-me ao padre confessor, e a Dom Tomaso Rendina: diga-lhe que o desejaria no santo retiro em Deliceto.
De Jesus Cristo e depois de V. Revma. indigníssimo servo e irmão em Cristo,
Geraldo Majela do Ssmo. Redentor.
***
Observações:
1) Conhecendo o dicernimento e a prudência de Geraldo em assuntos de consciência, é preciso que conheçamos também a destinatária de 15 de suas cartas, dirigidas à Madre superiora do mosteiro carmelita de Ripacandida, Maria de Jesus. E isto porque, sendo ela declarada 'visionária' pelo examinador enviado ao mosteiro pelo bispo diocesano Dom
Teodoro Basta, esta grave pecha agravaria em muito conceito que temos a respeito do dom do discernimento de espírito, que sabemos, foi uma caraterística da vida de nosso santo. Durante o período mais crítico da vida dessa religiosa carmelita e de seu mosteiro, isto é: entre 1752 e 1753, Santo Afonso escrevia à Madre Maria de Jesus: "Eu, de minha parte, lhe asseguro que Deus está com a senhora. E que quer mais? E seus assuntos de consciência, queira comunicá-los a mim, pois, além do mais, os julgo como coisas de Deus".
Madre Maria de Jesus era superiora do mosteiro das carmelitas de Ripacandida, pequena cidade do antigo Reino de Nápoles, e pertencente ao bispado de Melfi. Levava uma vida verdadeiramente santa e, por isso, era muito estimada por São Geraldo. Ela, por sua vez, bem como as outras vinte religiosas do mosteiro, faziam um alto conceito da santidade de Geraldo e sentiam-se inflamadas no amor de Deus, quando ele as visitava e se entretinha com elas sobre assuntos espirituais. O que Geraldo unicamente queria era vê-las todas santas, abrasadas no amor de seu divino esposo, Jesus Cristo, e como Cristo, dedicadas ao amor do próximo.
Foi neste seu primeiro encontro com as religiosas de Ripacandida que aconteceu um fato deveras extraordinário. Enquanto falava com entusiasmo extraordinário sobre o amor de Deus, Geraldo sentiu-se, de repente, elevado aos ares, em êxtase. Tentando reprimir-se, agarrou-se à grade de ferro do locutório, que separava os visitantes da comunidade. Mas o impulso do amor foi mais forte: a grade ficou retorcida...
O mais interessante é que Madre Maria de Jesus contava apenas com 26 anos de idade e Geraldo, 25.
2) Que quer dizer Geraldo com isso? Parece que se refere ao fato de inflamar-se e ficar fora de si, em êxtase, quando falava de Deus.
3) Aqui transparece uma dúvida que assaltou Geraldo, quando cavalgava de volta de Melfi: "que estão pensando de mim as irmãs?" Por algumas palavras ouvidas das irmãs, ele começou a suspeitar que elas o tivessem como um santo. Para ele, isto era como um espinho no coração. E ficou tão preocupado que o cavalo se desviou do caminho sem que ele percebesse. Havia pedido a elas que rezassem por ele, pois se sentia realmente pecador, mas as irmãs haviam entendido tudo às avessas.
4) Geraldo vê e ama a todas em Jesus Cristo. Por isso diz: "abraço-as todas dentro do lado sagrado (i. é: do Coração) de Jesus Cristo". O "lado aberto e escancarado de Jesus Cristo" e o "coração aflito de Maria Santíssima" são uma clara evocação do "mistério de Cristo" na sua máxima afirmação no alto do Calvário. Foi ali que o mundo encontrou o Amor e a Vida.
retirado do livro cartas de são geraldo majella
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