sábado, 4 de maio de 2013

O Esplendor do Lírio - S.Ambrósio


O Esplendor do Lírio 

Três livros de S. Ambrósio , bispo de Milão, 
sobre a virgindade , á sua irmã Marcelina

LIVRO PRIMEIRO
Capítulo primeiro

Ambrósio compreende que deve dar contas a Deus de todas as suas palavras e talentos, e aplica-se a escrever. Depois de examinar diversos exemplos da 
misericórdia divina , excita-se á confiança , mas logo confessa incapacidade para o trabalho, desejando ser tratado como a figueira do Evangelho . Todavia, para fechar a boca aos adversários, declara não lhe faltarão as palavras, porque fala de Cristo.


1.Se, conforme a sentença evangélica, havemos de prestar contas a Deus de toda palavra ociosa (Mt 12, 36) ;  se o servo, qual usurário apreensivo ou avarento, oculta na terra os talentos da graça espiritual a ele confiados, os quais deveriam antes ser depositados nos bancos, para que multiplicassem em juros - incorrerá em grande desagrado de seu Senhor, quando este houver tornando; nós, com razão, embora dotado de medíocre talento, devemos temer porque, pela necessidade, somos forçados a confiar as nossas almas a juros, os talentos divinos, porque assim se não nos peçam contas de nossas palavras, mormente porque o Senhor exige o esforço e não o êxito. Por isso acabei resolvendo que escreveria. Estamos mais expostos à confusão no falar do que no escrever; os escritos não sofrem acanhamento.
2. Descrevendo a minha incapacidade, mas estimulado pelos exemplos da misericórdia divina, ouso elaborar o meu discurso, pois, quando aprouve a Deus, a jumenta também falou (Num. 22,  28).Se um anjo vier em meu socorro, embora sobrecarregado dos fardos deste século (destes tempos) , abrirei os lábios, há tanto tempo mudos, porquanto pode remover o impedimento da ignorância Aquele que, na jumenta, destruiu os obstáculos da 
natureza.Na arca do Antigo Testamento floriu a vara do sacerdote (Num. 17,  8) ; Deus fará germinar facilmente, na S. Igreja, flores do nosso tronco nodoso. Quem admira que Deus fale pelos homens, Ele que falou na 
sarça, oxalá ilumine Ela nas minhas dificuldades.Haverá os que se admirem de luzir algum clarão em nosso sarçal, a outros não atingirão nossos espinhos; haverá os que, ouvindo-nos a voz, descalçarão as sandálias por que os obstáculos materiais não travem o progresso da alma.
3. Estes são, porém, méritos de varões santos. Quem me dera lançasse Jesus seus olhares sobre mim deitado sob a figueira estéril! Após três anos também nossa figueira produzirá frutos ( Lc 13, 7).Donde, porém, aos pecadores esperança tanta? Praza aos céus aquele vinhateiro do evangelho , incumbido de arrancar a figueira, a poupe ainda este ano resolvido a cavar-lhe ao derredor do pó e o pobre do monturo.Bem-aventurados aqueles que prendem seus cavalos sob a videira e a oliveira ( Gn 49, II) consagrando o curso de seus trabalhos á luz e á alegria. Pesa sobre mim a sombra da figueira, isto é, o desejo sedutor das delícias mundanas, árvore enfezada, frágil para trabalho, débil para uso, estéril em frutos.
4. Talvez alguém se admire de que ouse escrever quem não pode falar. 
Relembrando, todavia, a doutrina evangélica, (as escrituras) e os feitos dos 
sacerdotes encontramos uma prova no santo profeta Zacarias: o que não pode 
explicar verbalmente , escreveu.Se o nome de João restituiu a voz ao pai, eu, 
mudo embora, não devo desesperar de reaver a fala discorrendo sobre Cristo: (Lc 1, 63, 64): cuja geração, conforme o dito profético, quem poderá descrever? (Is LIII, 8).Por isso, como servo, louvarei a família do Senhor, visto que o Senhor imaculado consagrou para si próprio, num corpo sujeito 
ás máculas da fragilidade humana, um escol virginal.

Trecho retirado do livro :O Esplendor do Lírio 

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